terça-feira, novembro 07, 2006

Rui Rio, a genealogia da moral pública

Dizer que o despacho é um "exemplo" para o país só pode fazer sentido numa cabeça povoada pelos fantasmas da perseguição e da intolerância

Rui Rio anunciou na semana passada mais um contributo da sua genialidade política para o progresso da nação. De forma a acabar com a "perversa cultura de mão estendida", para erradicar o "preocupante fenómeno de desajustada subsidiodependência" que se lhe afigura "castrador do desenvolvimento", o presidente da Câmara do Porto decidiu acabar com os subsídios. Tanta filosofia política vertida para um único despacho, tanta coragem concentrada numa acção que vai gerar óbvios protestos devem ter exigido ao autarca profundas reflexões. Ou talvez não. Em cinco anos de mandato, Rio jamais deu sinais de que uma medida deste alcance pudesse acontecer. Já tinha reduzido à míngua o orçamento para a cultura, já tinha manifestado o seu desprezo pelos criadores, já tinha até teorizado sobre a dicotomia entre pobres e artistas, os que precisam e os que recebem. A aprovação do despacho foi, ainda assim, um gesto intempestivo.
Saber se o que moveu Rio foi o interesse público ou a obsessão que o leva a querer vergar os que ousam pensar de maneira diferente faz toda a diferença. E Rio dá a resposta, quando faz constar no despacho o escândalo de haver quem, "inclusive", recorre ao tribunal "para que lhe seja reconhecido o direito ao subsídio". Ou seja, Rio não tolera que alguém confunda esmolas com direitos. Não interessa que o subsídio em causa, de 25 mil euros, tivesse sido, de facto, prometido ao Teatro Art"Imagem, que organizou um festival em que o logótipo da câmara apareceu com o destaque negociado; pouco importa que o Teatro Art"Imagem estivesse, de facto, para receber a verba prometida em Outubro. E, muito menos, não convém divulgar que o pagamento da promessa não aconteceu apenas porque, num gesto de dignidade, os dirigentes da companhia recusaram rubricar um protocolo com uma cláusula censória que os obrigava a "abster-se de, publicamente, expressar críticas que ponham em causa o bom nome e a imagem do município do Porto".
Dizer que o despacho é um "exemplo" para o país só pode, por isso, fazer sentido numa cabeça povoada pelos fantasmas da perseguição e da intolerância. O que, no seu teor, sobra em ressabiamento, falta em dimensão cívica. Nada de novo, aliás. Há anos que Rio tenta, por exemplo, condicionar a independência de todos os jornais com redacções importantes no Porto. Mas, neste caso, deu conta que, em Portugal, não há lugar para "queridos líderes" e tentou contornar a liberdade de imprensa investindo em spin doctors que tutela e em ecrãs espalhados pela cidade nos quais veicula a verdade oficial. No caso da cultura, a tentativa de esmagamento de um pensamento próprio fez-se de forma menos subliminar. Só se dá esmola a quem a merece. E só a merece quem não critica. Como, felizmente, houve quem dissesse "não", como José Leitão do Art"Imagem, ou Arnaldo Saraiva, da Fundação Eugénio de Almeida, Rio decidiu acabar com os subsídios. Sabendo a história, dizer que esta medida revela preocupação com o dinheiro dos contribuintes é grossa mistificação. O que está em causa é uma atitude persecutória de um político a quem falta cultura cívica e tolerância democrática. O Porto, que, como dizia Garrett, troca os vês pelos bês mas nunca a liberdade pela servidão, tem um homem assim à frente da câmara.
Fonte: Editorial do Jornal o Público, por Manuel Carvalho, 7 de Novembro de 2006

8 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente não chega ser se sério para ser um bom político! É preciso muito mais, e não vejo mais qualidades neste presidente de câmara.

Anónimo disse...

Falta acrescentar que Rui Rio prometeu que as SCUD não seriam para pagar, e agora diz o contrário. Que prometeu não aumentar impostos, ao contrário do que faz agora. Que prometeu não aumentar as taxas moderadoras, contrário do que faz agora. Que prometeu um centro materno infantil para o Porto, ao contrário do que faz agora, etc. etc.

Ou não terá sido o Rui Rio?

Joel Azevedo disse...

Solicito para que se identifiquem sempre que participam neste blog.

A não ser que tenham vergonha do que dizem ou estejam somente a especular.

Cumprimentos ao desconhecidos,

Joel Azevedo

Joel Azevedo disse...

Calculo que queria dizer SCUT e não SCUD??

Dado o lapso passo á resposta.

No Programa Eleitoral do PS e do Governo estava inscrito que “as SCUT deverão permanecer como vias sem portagem enquanto se mantiverem as condições que justificaram, em nome da coesão nacional e territorial, a sua implementação, quer no que se refere aos indicadores de desenvolvimento socio-económico das regiões em causa, quer no que diz respeito às alternativas de oferta no sistema rodoviário”.

Ou seja, as SCUT inseridas em zonas cujos indicadores de desenvolvimento, nomeadamente o PIB/per capita e o índice de poder de compra atingissem determinados níveis, estas passariam a ser portajadas, por isso é necessário que fique bem claro e de uma forma definitiva, que não existe nenhuma quebra de compromisso, nem do Partido Socialista, nem do Governo.

Em relação a não aumentar os impostos e aumentar as taxas moderadoras qual a pagina do programa eleitoral do Partido Socialista, onde diz tal coisa??


CENTRO MATERNO INFANTIL

A discussão em torno da criação do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) dura há cerca de 20 anos. A construção do CMIN esteve inicialmente prevista para os terrenos onde se situava o Bairro Parceria e Antunes, junto da Maternidade Júlio Dinis equacionada entre 1991 e 2003, e que determinou um processo para realojamento de 154 famílias.

Num relatório divulgado, a propósito do CMIN, o Tribunal de Contas (TC) refere que a Câmara do Porto, já presidida pelo Dr. Rui Rio, investiu no realojamento das famílias um total de 2,9 milhões de euros, mas recebeu da Administração Central, ou seja do Estado, 4,3 milhões. Erros técnicos razoavelmente grosseiros e que originam logicamente á desconfiança e a inviabilidade do projecto.

No seu documento, o TC acusou o Ministério da Saúde de ter gasto, em pouco mais de 12 anos, 5,6 milhões de euros no processo do futuro Centro Materno Infantil do Norte sem conseguir sequer iniciar a obra. "Desde a inscrição do projecto em PIDDAC (1993), foram dispendidos pelo Ministério da Saúde 5,6 milhões de euros, de 74,1 milhões previstos, não se tendo sequer iniciado a respectiva construção", assinala-se no relatório.

Nas conclusões de relatório, o TC exorta o ministério a não alicerçar decisões sobre construção, ampliação e reconstrução de unidades de saúde, como o CMIN, apenas em pareceres técnicos e científicos relativos à prestação de cuidados de saúde. Segundo o tribunal, a tutela deve fazê-lo tendo em conta também estudos económicos e financeiros provisionais "que confiram maior sustentabilidade à decisão e não comprometam a boa gestão dos recursos públicos".

Nuno Coelho disse...

HA! e o segundo "anonymous" esqueceu-se de dizer que nos centros de formação profissional os formadores e formandos vão ficar sem receber os meses de Novembro e Dezembro...
Justificação?
Há que manter o défice!

Fonte: Centro de formação Profissional do Sector Terciário do Porto.

Para não dizer por experiência própria, que continuo a aguardar ansiosa e desesperadamente que me paguem o meu trabalho realizado em Maio, Junho e Julho!

Estamos em Novembro.

Inadmissível.

Joel Azevedo disse...

É verdade sem dúvida que o governo esta a fazer um mau trabalho, só porque tu não recebes.

Temos que por o Primeiro-Ministro a tratar disso pessoalmente e não tenho duvidas que a partir dai estão resolvidos os problemas da nação e se calhar de todo o mundo.

Nuno Coelho disse...

ya... ok... tá tudo!
sabes o significado da palavra exemplo?
tu usas o blog para falar mal de quem quer que seja, logo que seja ideologicamente diferente de ti...
eu acho que posso usar o blog para falar mal do meu patrão!!!

posso???

Joel Azevedo disse...

Caro Coelho,

"posso usar o blog para falar mal do meu patrão!!!"

Claro que sim, podes e deves mas estando tu a comentar depois de um comentário meu só deves estar preparado para a resposta ou não??

E eu não uso o blog para falar mal de quem quer que seja, imito apenas e simplesmente a minhas opiniões ou/e ralatos que vão de encontro ao meu pensamento, mas acredita que não vou descer ao nível das tuas provocações.


Abraço,

Joel Azevedo