
ficam aqui os pontos altos da mini entrevista dada ao El Mundo.
"Continuo a viver, mas são 80 anos. Vivo mal este aniversário. Sei que já é importante chegar a esta idade. A data também representa profissionalmente 62 anos a desenhar. O que é muito. Mas não tenho 80 anos na minha cabeça. Parece-me um salto muito grande o que se dá dos 79 para os 80. É o salto de uma década. Não tenho idade... Tenho o mesmo espírito, a mesma inquietude, a mesma vontade de trabalhar. Espero que as forças físicas continuem a ajudar-me."
"Astérix não tem idade. Não envelhece. Nasceu adulto. Não envelhecerá nunca. É essa a sua natureza. Estou surpreendido pela continuidade no tempo e pela universalidade. Não estava previsto que adquirisse essa dimensão. Era a quinta personagem que Goscinny e eu fazíamos. Nunca pensámos que chegaria tão longe. Viveu mais de 50 anos e foi visto e lido em todo o mundo. Além de que os leitores estão sempre à espera do álbum seguinte. Como se tivesse sido criada uma militância sã."

"(morte do companheiro Goscinny) Foi um momento duríssimo. Tinha apenas 51 anos... Éramos amigos íntimos. Irmãos. Pensei que Astérix tinha morrido com Goscinny. Perguntava-me o que é que poderia fazer para continuar a desenhar. Tínhamos realizado 25 álbuns e estava claro que poderia viver com os rendimentos dessas vendas. Algo aconteceu na minha cabeça. Dois anos depois da morte dele começou a rondar-me a ideia de voltar a dar vida a Astérix. O contexto não era nada favorável. Para além das minhas dúvidas, a imprensa tinha anunciado que Astérix morreu com Goscinny. Fui completamente esquecido. Doía-me saber que ninguém tinha em conta a minha obra nem o meu lugar. Depois apareceu o meu orgulho. Fiz a minha aposta. Criei a minha própria editora, contratei uma secretária e um rapaz para a administração. Pouco a pouco foi voltando a inspiração. E desde então publiquei nove álbuns em 28 anos. Não é muito. Mas creio que o Astérix sobreviveu de acordo com a sua natureza original. Tinha uma personalidade. Os seus avatares tinham conseguido superar um tipo de humor demasiado elementar. As histórias conciliavam a inquietude das crianças e dos pais. Tem graça porque estávamos condenados ao fracasso. De Goscinny diziam que era demasiado intelectual. A mim censuravam-me por as personagens serem toscas ou desmesuradas. Não consigo esquecer o director do jornal belga que me perguntava porque é que as minhas criaturas tinham um nariz tão grande. E dizia-o sem se dar conta das enormes dimensões do seu próprio nariz."
Sem comentários:
Enviar um comentário