Tomei uma atitude, deixei de fumar, numa noite em que de tanto ter fumado fiquei enjoado, tinha fumado pelo menos uns três maços, foi mais uma noite em que era o sujeito passivo, o activo, esse que controlava a relação era sem duvida o cigarro, eu era o servo o submisso.
Era um dependente, um dependente, eu era um dependente…
Queremos ser o mais independentes possíveis, muitas vezes medindo força com quem nos quer bem (os nossos Pais ou conjugue), mas na primeira oportunidade deixamo-nos ficar dependentes de algo, de uma coisa que além de saber mal (lembrem-se da primeira vez), não sabemos porque nos apaixonamos por ele.
Com a maior facilidade ficamos agarrados, presos, subjugados, dependentes de um bem material mais do que a uma pessoa, julgo posso dizer que a raça humana é materialista, egoísta e egocêntrica. Os fumadores são o exemplo disso mesmo eu fui o exemplo disso mesmo, pois fumava em locais públicos, recintos fechados, na minha casa ou melhor na casa dos meus pais, sem me preocupar o que provocava ao alheio ou a quem partilhava comigo um espaço preocupando-me única e simplesmente de satisfazer as minhas necessidades.
Mas para deixar de fumar é preciso actuar, é preciso tomar uma atitude, mas para isso é preciso saber se, quer ou não se quer, quer-se mesmo ou não se quer mesmo, está-se farto ou enjoado ou doente, ou não se está farto ou enjoado ou doente. Deixar de fumar é simples, a força do vício somos nós que a damos e sabemos que a nossa força de vontade é capaz de arrasar e mover montanhas.
Se pensa que o faz para se imaginar (ou mesmo ficar!) mais saudável, nunca deixará de fumar, sucedendo-lhe o que sucede na esmagadora maioria dos casos comparativos: estando cinco dias (no máximo), depois a cervejinha ou o chocolate, pergaminhos convidando o regresso dos gramas esforçadamente perdidos entretanto, ou a tentativa da substituição dos cigarros por pastilhas elásticas, raramente as mastigo e certamente que não desceria ao ridículo de mascar todo o dia e por todo o lado, ou resolver a necessidade na nicotina com os adesivos mágicos de marca Nicottinell, que o seu resultado pratico só é eficaz porque nos lembremos do dinheiro gasto, ou o seu corpo farta-se de pretender que é um atleta e nem usa as aulas pagas até ao fim do mês no melhor ginásio das proximidades.
Os esforços não contam, não resultam, não se esforce por largar o tabaco, porque acaba novamente fraco, nos braços da nicotina embalados pelo alcatrão.
Não.
Não se esforçar, vai dar-se mal. Esforçar significa que na realidade você não quer parar de fumar, é um pretensioso, um fingido, está a enganar alguém, fez uma promessa que não pode cumprir. Ou está apenas a enganar-se a si próprio, está no seu direito e sobretudo não magoa nem desilude outrem, é apenas um tolo.
Você não se esforça: você simplesmente não fuma, ponto final parágrafo e não se fala mais nisso.
Deixar de fumar é ter perseverança. Somos capazes ou não somos capazes.
Deixar de fumar é radical. Não se faz um intervalo - seja de cinco semanas ou cinco anos.
Deixar de fumar é uma atitude. Regra geral é preciso muita coragem para tomar uma atitude, qualquer atitude, deixar de ter um cigarro por companhia ou uma mão sem saber o que fazer, não passa de uma atitude (calem-se as matracas “científicas”, a dependência da nicotina não é nada comparada com as dependências da alma).
Se quer deixar de fumar, não procure conselhos no Google.
Não peça conselhos a ninguém. É uma tarefa que ou se faz sozinho ou nem vale a pena dar-se ao trabalho.
Faça.
Tome uma atitude. Mude. Mude-se.
Ganhe balanço. Não é uma questão de “força de vontade”, de “esforço”, de “combater a dependência”, de “fazer-lhe a vontade”, de “ganhar a aposta” - em suma, de brilhar (para isso um cigarro entre os dedos tem mais charme).
E quando é que uma pessoa sabe que deixou realmente de fumar?
Eu simplesmente soube. Já tinha tentado antes, uma vez estive quase um mês, foi bom, aliviou, mas eu sabia que não deixava coisa nenhuma. Era um intervalo. Umas férias, um alívio. Nada contra: faz bem, seja como for.
Até aos três meses contei o tempo, a tosse nocturna seca das e as muitas noites mal dormidas faziam-me lembrar todos os dias passados. Uma tortura consentida. Até aos seis meses tinha a consciência de quão ténue é este tipo de triunfo de uma parte de nós sobre outra. Em qualquer altura, intui-se, um acontecimento banal, um gesto de alguém que fuma, uma cena num filme, o azul do fumo a esvair-se — e quebramos. Eu tinha essa consciência.
Há quem diga que antes de uns três anos ninguém se pode considerar um ex-fumador. Admito. Eu não me considero um ex-fumador. Eu sei que deixei de fumar e sei que não volto a fumar. Soube-o por volta dos quatro ou cinco meses. Hoje sei-o mais convictamente, se tal coisa se pode dizer.
Finalizo: não é com “força de vontade” nem com produtos nem com abstinência forçada. Deixar de fumar é tomar uma atitude. Nem moralizo sobre a atitude “certa” ou “correcta” ou “saudável”, não é um juízo. É apenas uma atitude de vida que se muda porque se quer mudar quando se quer mudar.
4 comentários:
Tiro-te o chapéu pela atitude e pelo texto.
Beijos
Pois é Joel...tamos de parabéns!Uns mais que os outros mas ainda assim de parabéns.Também sei o que é fumar maços e maços,durante anos a fio.Sei o que são as tentativas frustradas para largar o vício,sei o que é enjoar de tanto fumar...No entanto consegui deixar.Faz na proxima passagem de ano 3anos que não ponho um cigarro na boca.Lembro-me que estava praticamente com todos estes "blogueiros", na casa da Patricia em Barroselas.Foi precisa mta coragem e mta força de vontade e orgulho-me de as ter tido.Um dia que tão cedo não esquecerei.
Fumadores, sigam o nosso exemplo!!
Gonçalo
eu nunca fui fumadora, por isso não sei bem como é essa dependência, mas sei que deve ser muito dificil, e por isso fico mto contente que existam pessoas com como tu joel e como o meu gonçalinho, de quem eu mto me orgulho! :o)
era bom que toda a gente seguisse o exemplo destes meninos, em vez de se andarem a envenenar aos pouquinhos..!a vida já é tão curta, minha gente!! para quê arriscármo-nos a torná-la ainda mais curta?!
beijos,
iva.
Felicito todas as pessoas que algum dia tomaram semelhante decisão, não a decisão de particularmente deixarem de fumar, mas sim uma decisão de deixar algo que gostavam que apreciavam mas que nada trás nada de bom em detrimento da sua saúde ou daquelas que o rodeiam.
Porque na vida, difícil não é deixar aquilo que não gostamos, mas sim aquilo que gostamos muito mas que de bem nada nos trás.
Saudações Invictas,
Joel Azevedo
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