EDUARDO PRADO COELHO
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O FIO DO HORIZONTE
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O homem contradito
O fenómeno é conhecido: nenhum de nós é um ser inteiriço, feito de uma só cara, antes quebrar que torcer. Todas as pessoas têm atitudes diversas dentro de si e algumas contraditórias. Ainda há dias Júlio Machado Vaz explicava nas suas conversas da manhã, que um pedófilo pode ao mesmo tempo ser alguém que estabelece as maiores exigências de puritanismo no interior da sua própria casa. Sabemos também (leia-se Vasco Pratollini) que alguns lutadores políticos e sindicalistas, que são capazes de sair para a rua de peito aberto às balas da polícia, podem ser como chefes de família de um extremo autoritarismo. A causa da liberdade é uma ideia, pela qual se está disposto a morrer, mas o autoritarismo é uma prática há muito enraizada no quotidiano. Todo o homem é um ser contradito - mas uns mais conscientemente do que os outros.
Um exemplo extremo dessa inconsciência é Rui Rio. Aposto que ele acredita piamente nas sociedades livres e abertas, onde o Estado tem apenas uma função reguladora, porque tudo está entregue à roda cega do mercado. Aposto, e não me creio enganar. Ele é um "social-democrata" convicto, pelo menos daquela forma algo desfigurada que a "social-democracia" assumiu entre nós, dada a distorção generalizada dos nomes e realidades (não é, por exemplo, que o pensamento da direita pura e dura se situa no Centro Democrático e Social?).
Mas Rui Rio é ao mesmo tempo alguém que actua como governante em termos completamente diferentes. Neste caso, os seus métodos são tipicamente estalinistas, ou pelo menos específicos das sociedades de Leste, ditas "socialistas", mas que de socialistas tinham muito pouco; eram sobretudo modelos "soft" de práticas nostalgicamente estalinistas. Rui Rio estará sempre na primeira linha do combate a estas sociedades que sinceramente detesta. Mas procede como um Ceaucescu de meia tigela.
O que ele acaba de fazer com o Rivoli é exemplo disso. É verdade que Rui Rio odeia a cultura e isto porque não sendo culto acha que tais atributos lhe ficariam bem, e por isso odeia o que deseja. Mas isto é apenas uma alínea de toda uma concepção de política cultural. O seu (e meu) amigo Pacheco Pereira, num daqueles artigos em que uma pessoa deveria pintar a cara de preto, é capaz de dizer a seu favor que ele prefere tomar medidas sociais a culturais. É como se um Primeiro-Ministro se preocupasse apenas com a educação e não quisesse saber nem da agricultura, nem da saúde. Então isto agora é assim? Escolhe-se uma pista para o animal correr e nunca se sai dela?
Em relação aos ocupantes do Rivoli, cordatos, pacíficos, dialogantes, mas corajosos defensores de uma causa, Rui Rio utilizou toda a panóplia dos métodos estalinistas. Não deu a cara, mandou uns títeres em seu lugar, cortou a electricidade, cortou a água, só não cortou mais nada porque não pôde, e pelas seis da manhã, hora voluptuosa de todos os ditadores, enviou diversas polícias e, depois de um interrogatório, considerou os ocupantes como arguidos em processo crime. Melhor era difícil. Triste Rio aliterante. O seu mandato será sempre marcado por estas reacções insensatas que apenas sinalizam uma enorme frustração. Eles são "intelectuais", eu não. Por isso os odeio em geral, aos que escrevem em jornais em particular, e sobretudo odeio todos aqueles que neste processo ousaram demitir-se dos seus cargos na estrutura camarária. Mas terá sempre o apoio do Fernando Almeida, uma espécie de soldado desconhecido na cultura, e que por isso é de confiança. O homem contradiz-se.
Fonte: Público
9 comentários:
O objectivo do blog não foi perspectivado, penso que não foi por causa da emissão das tuas opiniões que este blog tem sobrevivido e ao contrário de mim nunca emitiste uma opinião e já usaste-o o como propaganda. São as contradições da tua vida...
Caro Joel Azevedo,
Como quem não se sente não é pai de boa gente, tenho de reagir.
Creio que a "propaganda" a que te referes respeita`ao meu livro. Peço-te, por favor, que retires o que a ele respeita.
Porque me parece que, desta forma, estás a confundir a estrada de Beira com a beira da estrada, respondendo a uma crítica com um ataque pessoal que envolve terceiros, tomo a liberdade de te informar que este é último comentário que publico no "Pensamento Invicto".
Cordialmente,
Orlando Castro
Como quem não se sente não é irmã de boa gente... tenho de reagir.
A discussão entre a Liliana e o Joel é apenas mais uma na relação de longa data dos dois e posso confirmar que até foram bastantes... mas foram todas saudáveis e todas elas fizeram parte do crescimento pessoal dos dois.
Lamento a sua reacção em relação ao Joel. Lamentavelmente, acho que a relação de longa data dos dois ficou minada e não pela discussão que levantaram mas pelo seu comentário.
Cara amigos Orlando e Liliana,
A crítica e o ataque pessoal quem começou não fui eu como se pode ver em cima, com a frase "brincar aos políticos". Outra provocação, inundar o blog com propaganda, sabem que não é isso que tenho feito, tenho escrito de tudo logicamente e porque faz parte de mim escrevo e publico aqui o que me está mais próximo e que me diz mais respeito.
E essa palavra que ganhou forma na Alemanha Nazi, não fui eu quem a trouxe a discussão, porque a considero uma palavra evasiva e que eu particularmente não gosto de usar e muito menos gosto da sua pratica, dai e porque sou filho de muito boa gente também me ter sentido.
Este blog pelas pessoas que delas fazem parte pode ser um blog plural, aberto e participado, se cada um escrever o que pensa e como pensa, na área que se sente melhor e que mais gosta. É assim que vejo um blog como este.
Estou de acordo consigo quem não sente não é filho de boa gente e como eu sou filho de muito boa gente sinto aquilo que me dizem e também por isso compreendo a sua atitude, Orlando. Penso que respondi ao ataque pessoal dirigido á minha pessoa da mesma forma, porque não me deixo ficar como uma provocaçãozinha.
Em relação á inserção do lançamento do livro no blog, se não fosse a Licas, teria sido eu e deixe-me já agora dizer com a maior satisfação que o fazia.
Em relação ao teu segundo comentário Licas, faço minhas as tuas palavras…
Cumprimentos e beijinhos,
Joel Azevedo
Quando me falaram do blog, ninguém disse que iria haver lugar a "propaganda política" ou "vamos brincar aos políticos", mas sim um espaço onde todos poderiam expressar a sua opinião, preferências, pensamentos, etc, etc. Não sei como é que um artigo do Público - aliás, muito bem redigido, aplaudo o seu autor - que foi colocado porque alguém achou que estava suficientemente bom para ser comentado, ou suficientemente mau, dependendo das opiniões, está a dar tanta polémica. O blog não deve ser lugar para propaganda política, mas não vejo aqui qualquer tipo de propaganda. Vejo, sim, um texto que, por acaso, reflecte a opinião da pessoa que o colocou no blog, mas também vejo um texto bastante interessante para ser comentado pelas pessoas que são contrárias ao seu conteúdo. No entanto, não há ninguém que o tenha feito. Muito pelo contrário - em vez de se comentar o texto, está-se a comentar o objectivo do blog (que será a expressão da opinião de todos, ou será que percebi mal?) e a fazer-se críticas pessoais que começaram logo de início. Se alguém se sente ofendido com o texto, que o diga e que o refute. Além do mais, só vejo uma crítica pessoal ser respondida com outra crítica. Se se quer falar de ataques pessoais, então vejo ataques de todas as direcções e não só de uma...
Patrícia
Caro Ze,
Estou plenamente de acordo contigo. És um verdadeiro diplomata...
Em relação a retirada do post eu por mim estou de acordo, fico á espera de outras sugestões.
Abraço,
Joel Azevedo
meu pi... inda a semana passada ouvi da tua boca que concordavas com o Rui Rio!!!
agora já não és a favor?
Mas o mundo da política é assim, o que hoje é verdade, amanha é mentira!!!
Caros amigos Coelhos,
Estou e sou contra, digo e reafirmo, a manifestação no teatro Rivoli, como sabem e se não souberem ficam a saber, mas estar contra a manifestação, não por ser contra as manifestações mas sim pela invasão de propriedade e a forma de manifestação apresentada. Mas isso não quer dizer que esta a favor que o Rivoli passe para gestão privada ou a pela forma como o Rio tratou as pessoas que estavam fechadas dentro do teatro.
Por isso neste ponto estou ao lado do Rio e contra os manifestantes, não pela causa mas sim pela forma, mas também me distancio do Rio, no que concerne ao meio que este utilizou para resolver esta situação e faço minhas as palavras do Eduardo Prado Coelho, assim como estou contra que o único teatro municipal passe para gestão privada. E para acabar penso que deveria haver e sou a favor de uma reestruturação da CulturPorto para que esta fosse mais rentável e em que pelo menos não desse prejuízo mas que continuasse com o que acho essencial a promoção de novos artistas e de novas formas de arte.
Saudações
Joel Azevedo
Estou plenamente de acordo contigo Dario, cada cabeça sua sentença e por isso é que é importante que um blog como este, sirva de espaço de debate e de confrontação de ideias aberto e plural num espírito verdadeiramente democrático, apesar de podermos questionar a democracia como aqui também já foi feito mas sempre com o direito de contradição. É saudável e recomendável que assim seja.
Há, também concordo contigo quando dizes que a manifestação dentro do estabelecimento é ilegal mas como sabes é uma pratica muito constante nas empresas em Portugal, o que eu condeno logicamente. Mas não se combate uma imoralidade com outra imoralidade, PENSO EU DE QUE!!!
PS: Fico Feliz pela alta taxa de visitas que o blog tem tido estamos no bom caminho.
Abraço,
Joel Azevedo
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