O duelo nasceu da convicção muito natural de que um homem não aguentaria injúrias de outro homem a não ser por fraqueza; mas porque a força do corpo podia dar às almas tímidas uma vantagem considerável sobre as almas fortes, para introduzir igualdade nos combates e dar-lhes por outro lado mais decência, os nossos pais imaginaram bater-se com armas mais mortíferas e mais iguais do que aquelas que tinham recebido da natureza; e pareceu-lhes que um combate em que se poderia tirar a vida de um só golpe teria certamente mais nobreza do que uma briga vil em que no máximo se poderia arranhar a cara do adversário e arrancar-lhe os cabelos com as mãos. Assim, vangloriaram-se de ter colocado nos seus usos mais elevação e mais elegância do que os romanos e os gregos que se batiam como os seus escravos. Achavam que aquele que não se vinga de uma afronta não tem coragem nem brio; não atinavam que a natureza, que nos inspira a vingança, podia, elevando-se ainda mais alto, inspirar-nos o perdão.
Esqueciam-se de que os homens são obrigados muitas vezes a sacrificar as suas paixões à razão. A natureza dizia mesmo, na verdade, às almas corajosas que era preciso vingar-se; mas ela não dizia que fosse sempre preciso lavar as menores ofensas no sangue humando, ou levar a vingança para além mesmo do seu sentimento. Mas, daquilo que a natureza não lhes diz, a opinião os persuadiu; a opinião ligou o último opróbrio às mais frívolas injúrias, a uma palavra, a um gesto, sofridos sem revide. Assim, o sentimento de vingança era-lhes inspirado pela natureza; mas o excesso de vingança e a necessidade absoluta de vingar-se foram obra da reflexão. Ora, quantos usos não existem hoje ainda aos quais honramos com o nome de polidez e que não passam de sentimentos da natureza levados pela opinião para além dos seus limites, contra todas as luzes da razão! Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'
Esqueciam-se de que os homens são obrigados muitas vezes a sacrificar as suas paixões à razão. A natureza dizia mesmo, na verdade, às almas corajosas que era preciso vingar-se; mas ela não dizia que fosse sempre preciso lavar as menores ofensas no sangue humando, ou levar a vingança para além mesmo do seu sentimento. Mas, daquilo que a natureza não lhes diz, a opinião os persuadiu; a opinião ligou o último opróbrio às mais frívolas injúrias, a uma palavra, a um gesto, sofridos sem revide. Assim, o sentimento de vingança era-lhes inspirado pela natureza; mas o excesso de vingança e a necessidade absoluta de vingar-se foram obra da reflexão. Ora, quantos usos não existem hoje ainda aos quais honramos com o nome de polidez e que não passam de sentimentos da natureza levados pela opinião para além dos seus limites, contra todas as luzes da razão! Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'
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