Paulo Ribeiro, director do Teatro Viriato, em Viseu, diz que não "há palavras" para definir o que está acontecer no Teatro Rivoli, no Porto. Mas é com palavras que tenta manifestar a sua indignação. "É espantoso como uma cidade que foi, em 2001, Capital Europeia da Cultura, chega a este estado de aniquilamento e devastação". O criador acusa o actual Executivo camarário de liderar "um acto de terrorismo", deixando "o Porto mutilado", e fomentando o que diz ser "uma redundância" "Se a ideia é ter uma simples sala de espectáculos, o Coliseu já cumpre essa função".
Lamentando "a espécie de alergia que Rui Rio parece ter em relação ao pensamento e à criação", Paulo Ribeiro estabelece duas comparações a primeira com Lisboa, "que tem dois teatros municipais - S. Luiz e Maria Matos -, com uma programação intensa e de altíssima qualidade"; a segunda com o próprio teatro que dirige: "Temos 750 mil euros por ano, repartidos entre o Ministério da Cultura e a autarquia".
Neste contexto, como corrobora Victor Nogueira, do Teatro de Vila Real - o equipamento é gerido por uma empresa municipal constituída para esse efeito -, o Porto fica claramente em desvantagem em relação a outras cidades. "A Câmara está a cometer um erro estratégico muito grave. A principal função dos teatros municipais é assegurar uma filosofia de serviço público e não obter lucro. Ou deveremos exigir que a educação e a saúde sejam também rentáveis?", questiona.
Manuel Portela, do Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, dá a resposta. "Se a programação for entregue à lógica de mercado, deixa de haver formação de novos públicos e experimentação artística e passa a haver meras salas de entretenimento". E acrescenta "A situação do Rivoli é muito semelhante à do teatro que dirijo: entre 1999 e 2005, a autarquia comparticipou 10% da programação; actualmente demitiu-se de qualquer apoio". Em Aveiro, Rui Sérgio, director artístico do Teatro da Trindade, só lamenta "que a ocupação do Rivoli seja tardia: não perde o mérito, mas perde o peso necessário para alterar a decisão de Rui Rio".
Fonte: Jornal de Notícias
2 comentários:
Por outras palavras. Pretende-se que alguém descubra (eu já tentei mas não fui bem sucedido) que o Rivoli tem pais ricos (mesmo que seja à custa dos impostos pagos por quem nunca foi a este Teatro) e que, por isso, pode gastar à grande e à portuguesa, mesmo que seja para dar guarida a brilhantes peças que ninguém vê.
Se não tem pais ricos, Rui Rio sempre poderá ir ao BES buscar dinheiro para sustentar a nata (embora com prazo de validade já ultrapassado) de uma sociedade supostamente cultural que nunca sobe ao nível do Povo e que, por isso, entende que esse mesmo Povo nada percebe de arte.
E, se calhar, não percebe nem de arte nem de quaquer outra coisa. No entanto, é esse mesmo Povo supostamente inculto que legitima a democracia.
Ou seja, para o que interessa a sabedoria popular conta. Mas só para e quando interessa...
Queria aproveitar para relembrar, remontando ao ano de 2002, o estado em que o Dr. Rui Rio encontrou a câmara do Porto. Através de situações mal esclarecidas estima-se que só entre o dia das eleições autárquicas e a tomada de posse do actual presidente tenham sido delapidados dos cofres cerca de 19 milhões de contos.E repito contos, não euros. Afundada em dívidas, é natural que não se consiga agradar a todos.
Em momentos conturbados como este gostava que as pessoas não esquecessem que os tempos não são de bonança e há que fazer opções. Não querendo ofender ninguém, e salvaguardando óbvias excepções considero que a cultura hoje em dia, deixou de ser um prazer pra se tornar uma moda e fica bem defendê-la mesmo que nunca se tenha pago um bilhete pra entrar numa sala de espectáculos.
Mesmo assim o Rivoli não morreu, bem pelo contrário.Quem quiser vai continuar a poder visitá-lo e quem sabe ver peças de igual ou melhor qualidade.
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